quarta-feira, 11 de agosto de 2010

É preciso saber perder-se quando queremos aprender algo das coisas que nós próprios não somos.

Friedrich Nietzsche

Estou cansada de viver como se fosse uma pessoa adulta e madura.
Gostaria de voltar a ser criança - uma garotinha de seis anos que caiu de bicicleta. Gostaria de fazer cara de choro e correr aos berros para a cozinha, onde minha mãe me ergueria do chão, me daria um forte abraço e beijaria meu joelho esfolado. E pararia de chorar e tomaria leite com chocolate para a dor passar. Essa é uma das coisas que as pessoas não nos ensinam quando falam de crescer: como lidar com as dores que não passam com um beijo.
Lynda Waterhouse

Pudera eu, hoje, entender o quão era bom um chocolate quente. Mas agora até isso me deixa meio paranoica, quem dirá aliviar alguma dor.
A realidade é que nunca parei para pensar no que significava aquela caneca, e aquele beijo no joelho machucado, e percebi que isso era a razão de tudo, não pensar. Não se pensava em nada, só vivia.
Crianças vivem, não existem. Se apaixonam por tudo e por todos. Pela folha, pelo cachorrinho, pelo lacinho novo ou pela boneca da vizinha.
Eu nunca brinquei de bonecas, mas amavas os passarinhos. Eles cantavam para mim quando eu era mais nova, ou era nisso que eu acreditava.
Não me lembro da ultima vez que ouvi um passarinho cantar.
Acho que eles me esqueceram. Talvez eu tenha esquecido eles.
Não me lembro também da ultima vez que beijaram um machucado que fiz, muito embora eles estão longe demais dos outros, em uma parte que só eu consigo chegar. Isso me faz recordar que não esfolo o joelhos a muito tempo.
o que me leva a perceber que as coisas que me faziam viver naquela época, um tanto quanto recente, hoje não estão presentes. Hoje, meus joelho só tem as cicatrizes antigas, e meu choro, quando vem, não são por elas.
São pelas recentes.
Elas não estão no joelhos.
Mas me contento em saber que não sangro tão fácil, mas tenho feridas profundas que quase não lembro que existem, iguais as do joelhos, joguei purpurinas nelas, e continuo achando tudo muito bonito, até mesmo as cicatrizes.

Carolina Assis

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