quarta-feira, 27 de junho de 2012

Eu sou uma mendiga ao contrario...

...Eu ando pelo mundo implorando pra que alguém aceite a minha riqueza. Fico sentada no chão, tocando meu instrumento, com um chapéu imenso e lotado. E a plaquinha “por favor, não me ajude”. Muitas pessoas passam, mas pra poucas me levanto. Posso ficar horas tentando te explicar. Você tem um resto perdido e solitário de sobrancelha ao lado da sobrancelha esquerda. Você molha o lábio com a língua ainda mais seca que seus lábios, quando está nervoso. Você joga seu maxilar inferior pra frente quando a risada é de deboche. Você joga o seu maxilar superior pra frente quando a risada é de timidez. Você atravessou a rua com as mãos congeladas dentro do bolso. Você pede perdão pela sua parte playboy com a doçura e a sinceridade de um poeta descalço. Você me convida pra almoçar no restaurante onde terminamos e, porque sabe ser piadista exatamente do jeito que combina comigo, explica detalhadamente onde é o lugar como se eu não lembrasse dele todos os dias. Eu poderia ficar horas te explicando por que eu acho que é amor. Você outro dia fez o exercício contrário. Ficou tentando me explicar por que não é amor. Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar e, mesmo você não tendo aceitado, eu fui
[Tati Bernardi] 


 Eu sabia que precisava escrever, não importava bem o que ou como, mas era daquelas noites em que se a gente não explode em palavras, acabamos explodindo por dentro e matando tudo pelo caminho. E dessa vez eu queria matar alguém, queria achar um sentido no meu assassinato que não fosse a cura da minha dor. Sorri ao escrever algo assim, não me recordo a ultima vez que falei de dor, tão pouco que a chamei de minha. Não me culpo, tão pouco sinto pena de todos esses pedacinhos que estão no chão do meu qaurto, esperando que minha preguiça de junta-los vá embora, e eu deixe o chão brilhando como de costume. A gente acha que pode controlar todos os sentimentos do mundo, porque fizemos isso uma ou duas vezes. A gente se acostuma ser forte todos os dias, sem lembrar que a fraqueza não é ausencia da força, mas o desafio dela. Não se é forte, sem saber como é dormir com as pernas agarradas e acordar com o rosto molhado. Só se aprender a viver quem ja passou pela dor de sentir uma dor que se achou impossivel de passar. Eu só escrevi, para lembrar de tudo isso, e achar que toda essa vontade de quebrar meu espelho tem algum sentido lá na frente. Mas isso só entendi no fim do texto. Alias isso também é horrivel, só aprendemos no final. 

 Carolina Assis


É incrível como me rompeste o coração 
e posso seguir te amando com cada um dos pedacinhos.
 [Tati Bernardi]

Coisas aleatórias



Aprendi que prefiro vinho a agua, mas que não posso beber mais que duas taças. Chuva é bom para o sono, mas é péssimo quando há livros que precisam ser lidos. Se você quer odiar uma música, é só coloca-la como despertador. Sempre quis pintar meu cabelo de vermelho, minha mãe salvou minha vida não me oferecendo refrigerante quando criança. Escrever diários foi uma das melhores coisas que fiz, tenho desde 2006. Pessoas calmas me irritam. Acordo sempre de bom humor, mas é muito raro eu ir dormir com ele. Não há bom humor quando sou acordada, odeio atender telefone. Ainda não posso ver um balanço sem deseja-lo. Não atendo a campainha quando fico sozinha em casa. Só vejo filme de terror quando estou muito triste, mesmo passando metade deles com os olhos tampados. Ler pensamentos sempre será um dos meus maiores desejos. Morro de medo de alguém ler os meus. Acredito em tudo que me dizem. Machado de Assis deveria ter se casado comigo. Tenho preguiça de dormir fora de casa. Grampeei o dedo quando criança para ver se doía. É, doeu. Bebo agua o dia todo, mas só quando lembro. Fiz meu primeiro miojo com 17 anos. Tenho 18 e nunca mais fiz um. Sou viciada em datas, e me encanto com pessoas que as lembram. J.K Rowling é meu gênio. Constatei que mentalmente eu devo ter uns 65 anos, e a maior parte do tempo uns 9. Sorvete no frio é mais gostoso. Só um dos meus melhores amigos sabe de todas minhas manias. Receber desculpas me deixa doce. Ainda prefiro amigos homens, ainda tenho medo de pessoas e de sonhos. Meu cinismo irrita minha mãe. Gosto de felinos, mas odeio gato. Já disse que o Machado de Assis deveria ter se casado comigo? Joguei purpurinas nas minhas cicatrizes, e continuo achando tudo muito bonito. Academia me descansa. Chorar e se olhar no espelho me faz me sentir menos sozinha, sorrir para alguém nos faz ganhar outro sorriso. Sempre quis ter um tigre de estimação depois que li um livro que um menino o tinha. Pequeno príncipe foi o primeiro livro que ganhei, mas Harry Potter foi o primeiro que li. Adoro escuro, ou lugares que tenham pouca luz. Corujas me encantam. Ainda terei uma de estimação. Queria ter vivido no tempo do filme “Orgulho e Preconceito”. Quero uma tatuagem de pássaros. Odeio fazer trabalho em grupo, as diferenças ficam muito evidentes e causam conflitos que balançam amizade. Amo domingos porque são calados e de segunda feira por ser começo. Já foi provado que não tenho tpm, mas adoro por a culpa nela quando choro. Quando uma história fica muito tempo na nossa cabeça, ela esta pedindo para ser escrita. Não tem coisa melhor que escutar música clássica para dormir. Não sou fofa como pensam e não teria metade dos meus colegas se eles soubessem o que penso deles. Baixar músicas de artistas que não conheço é uma das surpresas mais gostosas, ou uma das maiores decepções. Sempre quis saber cantar, ou ser atriz. Não gosto de conversar de manha. Tenho vergonha de falar em publico, mas quando começo não paro. Ver lua cheia me da vontade chorar . Vento é uma das minhas maiores paixões, se não for a maior. Como doces com coisa salgada o tempo todo e ninguém entende. Pessoa que imitam minhas risadas nunca repararam que eu tenho mais de uma. Ainda me sinto incompleta, e vou sempre me sentir, enquanto ela morar lá, e eu aqui. Minha melhor amiga é única que não me olha me achando louca quando falo das minhas ideias, talvez por ser a única que as cometeria também. Escrevo desde criança, sem motivo algum. Não lido bem com perdas. Não tenho memória, mas me lembro de tudo que me fez gargalhar com a mão na barriga. Corro atrás de borboletas. Odeio realidade, sou viciada em seriados. Sempre quis um amor para vida toda. Assistir filme ainda me acalma mais do que um abraço, mas não gosto de finais felizes. Gosto de pessoas que me fazem melhorar de alguma forma. Tenho crise de choro quando fico com raiva, e crise de risos quando estou muito triste. Tenho paixão por gente que acha sentido nas coisas que não tem. Já me apaixonei por dois professores. Tati Bernardi consegue me tirar do sério, e me trazer pra ele. Tenho pavor de beliscão. Quero ter muito dinheiro para viajar sem data de volta. Amo praia deserta, mas não gosto de areia nem da água do mar. O mundo é redondo, tudo que parte em direções opostas acabam se reencontrando algum dia.

Carolina Assis

sábado, 21 de abril de 2012

Lembrar de como esquecer...

"Alguém me perguntou se eu conhecia você.
 Um milhão de memórias passaram pela minha mente
 e eu respondi: Não mais."



 Não era a primeira vez. Também não era a segunda. Talvez a terceira, não sei ao certo... Fui avisada que a cada vez seria diferente, que seria como se fosse a primeira, que voltaria ao começo, mas isso não fez com que eu estivesse mais preparada. Não importa quantos fins nós enfrentamos, esse não é o tipo de coisa que se acostuma, que fica fácil de se fazer. Não é o tipo de coisa que nos preparamos. A gente nunca acha que será preciso virar fim. Viramos tanta coisa em vez disso, viramos textos, poesia, bares e livros. Viramos dor para não virar fim. Mas até a dor se cansa de nos visitar, até olheiras cansam de serem expostas e o bares são limitados. Ai começa tudo de novo. Choramos, agarramos nossas pernas, ficamos todos encolhidos para recordarmos que não é a primeira vez. O maior consolo vem do nosso próprio abraçado, os melhores conselhos vem do nosso passado, nossas decisões vem com o tempo disso tudo. A gente não cansa de lutar, não cansa de receber socos no estomago, nem de querer ir em frente, mesmo deixando partes de nós mesmo pelo caminho. Não é cansaço, pelo contrario, é força. É força para lembrar que das outras vezes a gente prometeu que merecíamos coisa melhor. E tivemos. Por um tempo. Nada que é muito bom por pouco tempo é bom o suficiente.O melhor dura, se faz durar. Se faz presente, se faz único. Não adianta ser inteiro em certos momentos e metade nos momentos errados. Tem que fazer valer. Saímos da ilusão de que esqueceremos no dia seguinte, e do sofrimento pelo fato que não será assim. Nós nos conformamos. Sabemos que ainda haverão choros, músicas com carga máxima de lembranças, e saudade. Vai vim angustia nas noites do final de semana, vão haver borboletas no estomago quando o celular e campainha tocar, vai haver morte de todas elas ao percebermos que quem seguiu em frente não foi apenas nós. Mas ai a gente lembra que passou. Alguns demoraram mais que outros, mas passou, sempre passa. Mas só passa quando a gente aceita isso, quando permitimos que passe. Não passa se acharmos que saindo de mini saia ele ficara com ciume, não passa se tivermos esperança de esbarrarmos com ele pelas ruas, não passa quando ainda tem depois. Tentando lembrar de quais livros li das outras vezes, de quantas vezes sai por semana, ou se preferiria ficar em casa, se lembrar das coisas ruins tornavam mais fácil ou apenas mais dolorido. Mas não adianta, é sempre como se fosse a primeira vez. De novo é apenas comigo. Seguir os conselhos que tanto dei pelas rodas de amigos. Seguir meus conselhos. Meus passos. Não, não fica fácil de fazer depois das primeiras vezes. Fica fácil de acreditar que da para ser feito. Passou das outras vezes. Tão difícil quanto, mas passou. Deve passar dessa vez também. 

[Carolina Assis]

 "Ela se encostou no sofá, fechou os olhos e, então, conheceu o tamanho do abismo em que havia caído. Contudo, soube, com a mesma clareza, que só havia um caminho de volta à luz. Algo precisava mudar. Ela precisava de novos horizontes, não sabia direito quais, mas o estado atual da sua vida não era mais uma opção viável."

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Saber desistir...

...Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? Ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa?
[Clarice Lispector]

Fui capaz de ter certeza de uma única coisa nessa vida, que depois que te conheci, não tinha remédio, chocolate ou nota alta que fizesse a mesma euforia dentro do meu peito que fazia sua mão na minha cintura. Mas era só isso, foi sempre isso. Foi sempre você também. E é você, é sua voz, é seu cheiro, é sua presença mesmo ausente. É seu sorriso de homem, seu bico de criança e sua birra de adolescente. É seu abraço de urso, seus olhos de gato, sua manias de homem cachorro. É sua mão pequena, seu sorriso largo e seu braço forte. É você por inteiro o tempo todo. É você pela metade nos momentos incertos, sou eu aceitando isso a todo momento. Sou eu olhando para nós andando juntos e brincando com sorvete e não conseguindo não pensar que não dará certo. Não consigo não ver um futuro fazendo parte do nosso presente. Não consigo enxergar o nosso presente como isso, um presente. Nem nossa vida compondo uma só, nem sua mãe me mostrando fotos de você mais novo, e eu vestindo sua camisa larga para dormir na sua cama. Quando fomos aquela loja, e a vendedora me olhou pedindo permissão para te tocar, eu quis gritar para o mundo fazer igual. E quando minha mãe disse para meus parentes que eu estava apaixonada, eu quis te apresentar para todos eles. Mas... É tem sempre um mas na gente. Tem sempre aquele embora, contudo, entretanto, me dando socos no estômago e me fazendo sentir falta de como era sair de casa e não querer te encontrar, sair com outras pessoas e não querer te chamar. Sinto falta de não te querer. E há dias atrás, quando você só era alegria, eu sentia falta de que você fizesse algo para que eu desistisse. Porque lutar cansa, desgasta e borra maquinagens. Também embaça óculos escuros, como descobri hoje no seu carro, quando de novo você falou dela, e da outra, e daquela vez com mais uma. E agora que eu estou cansada, e descobri que não sou tão forte como me achava, eu quero é que isso acabe mas em silencio, que é para eu não ficar me lamentando por ter que esquecer de mais um. Mas enquanto isso, enquanto eu me encontro todos os dias nas suas ligações e olhares, vou me contentando com o fato de você ser o único que um dia me fez querer que mundo não se tornasse amanha, só para eu não ter que te esquecer.

Carolina Assis

E eu odeio o mundo por isso, eu acho o mundo muito medíocre, eu tenho pena de todas essas pessoas que não sabem o que é encaixar o rosto no vão das suas costas e querer ser embalsamado ali por mil anos. Amor de verdade não acaba, é o que dizem, mas eu tenho medo. Eu tenho medo de quantos bocejos, cinzas e óculos de surfistas eu ainda vou ver sem você, eu tenho medo dos meus pedaços espalhados pelo mundo, eu tenho medo do vento passar enquanto eu estou míope, e eu ficar míope pra sempre. Eu tenho medo de tudo isso apagar e o vento levar suas cinzas, desse fogo todo ser de palha, como dizem. Da dor que se dissipa a cada respirada mais funda e cheia de coragem de ser só. Eu tenho medo da força absurda que eu sinto sem você, de como eu tenho muito mais certeza de mim sem você, de como eu posso ser até mais feliz sem você. Pra não pensar na falta, eu me encho de coisas por aí. Me encho de amigos, bares, charmes, possibilidades, livros, músicas, descobertas solitárias e momentos introspectivos andando ao Sol. E todo esse resto de coisas deixa ao pouco de ser resto, e passa a ser minha vida, e passa a enterrar você de grão em grão.
[Tati Bernardi]

Amadurecer talvez seja descobrir...

que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar a dor para justificar nossa existência.

[Martha Medeiros]

Deitei na cama pela quinta vez em menos de dez minutos e tentei entender onde tudo aquilo daria. Até onde eu testaria minha força e minha independência emocional. Até quando eu poderia suportar a agonia de estar bem, mesmo que a coisa que eu mais queria não estivesse. Tem tanta coisa acontecendo, tanta coisa que foge do meu controle, tanta coisa indo e vindo, tanta pouca coisa ficando. Mas esta tudo tão errado. Dentro da minha casa, da minha cabeça, do meu caderno... Dentro do meu peito. E na casa do vizinho, que grita sempre que minha cachorra late, e meus pais insistem em achar que não é por causa disso. E lá fora, no mundo... Tudo tão chato, tão injusto, tão fraco, e tão, mas tão pouco. Tem tudo para dar certo, mas parece que a vida insisti em ser apenas professora, em apenas nos dar algo para aprendizado. Tenho vontade de gritar da janela do carro que eu já aprendi tudo sobre isso, que eu posso muito bem continuar aprendendo possuindo alguma coisa. Tudo fora do lugar, tudo conectado, mas nada encaixado de verdade. Sou obrigada a aceitar que as coisas quando são para ser será, no tempo certo. To cansada também do tempo certo, quero meu tempo. Quero fazer o agora, e não o depois. O depois, deixa pra depois. Lá na frente não vou estar sentindo isso, e vou estar querendo outra coisa, que a senhora vida vai esfregar na minha cara, que só depois. E vai virar um circulo sem fim, e vou morrer antes de ter o meu agora. Antes de ter você deitado na minha cama pedindo que eu deite com você, antes de sair da faculdade e encontrar seu carro estacionado e você de pé me esperando. Porque no momento eu atendo seus telefonemas diários e ouço o nome de outra, que no agora dela, você não esta presente, assim como no meu você também não esta. E as coisas continuam assim, indo para um lugar que ninguém sabe onde é, mas que ninguém quer que vá. A gente quer mesmo que seja do nosso jeito, pelo menos em algum momento da vida. Porque acordar cedo esperando que seja um bom dia é fácil, fazer ser um bom dia é mais ainda. A dificuldade esta nos imprevisto, que insistem em ser mais espertos que a gente. Não importa o quanto queremos algo, o quanto fazemos por ele, o quando lutamos, tem coisa que não é pra ser agora... Ai a gente respira e espera o depois. Que no meu caso, tenho certeza que já vai estar tudo mudado o que quero fazer, e o quero para o agora. E depois, vem outro depois.

Carolina Assis

Eu queria não acordar e lembrar que ainda preciso conquistar você, porque você brinca de ser meu, mas mora do outro lado mundo. E eu não sou atleta e nem forte para correr tanto e tão longe, por isso gostaria de destruir tudo o que é seu do meu mapa. Eu tenho muita preguiça do seu olhar de “já sei o que é sofrer, agora posso viver sem medo porque descobri que eu não morro”. Eu já sofri por aí, mas ainda morro muito, todo dia eu velo meus restos e conto uma piada para ninguém perceber.

[Tati Bernardi]

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Não estou dizendo que é fácil...

...as você acostuma sorrir sem motivos.


De perto ela sabia sorrir com os olhos, de longe, quando não tinha ninguém olhando ficava pensativa. Não poderia julgar, mas é provável que ela estivesse pensando em algo que a fizesse sorrir de longe, para manter aquela figura de sou forte e ninguém me derruba. Ela era boa nisso, assim como era boa em outras coisas. Em dizer palavras bonitas, e pensamentos filosóficos, mas ninguém nem imaginava que ela só gostou de filosofia porque o professor era bonito. Ninguém imaginava que no fundo ela não se importava com nada, e esse era o único motivo de estar sempre bem. Ela também não sabia o significado desse bem, desse to legal, desse do risada sozinha só de abrir a janela. Ela tinha pontinha de inveja sempre que ele ligava chorando, dizendo que estava sofrendo por outra. A inveja era dele, não dela. Ela não permitia que chorassem por ela, mas também não se permitia chorar por ninguém. E se quer saber, nem tinha vontade. Não sabia perder tempo segurando o celular decidindo se ligava ou não. Mas as vezes queria ser como ele, queria soluçar dizendo que não havia mais vida sem o amor Mas havia, porque amor mesmo ta nos pais, no café da manha, na música que ela viciou a poucos dias, na serie que ela vê para fugir dos estudos. Amor ta em tudo que ela fazia, mas para ela. O resto, era social. Ela sorria para os outros por educação, sorria para ela mesma porque queria, porque precisava. Porque o mundo era bem mais bonito com ela olhando para o céu, do que dizendo bom dia para outras pessoas. Ela não gostava de pessoas, e mesmo assim gostou tanto dele. Mesmo assim se permitiu dizer para outros que sabia amar algo alem do chocolate com morango que ela sempre comia antes do almoço. E era isso que ela tinha medo, de se permitir. Se importar, sentir, e sentir. E sentir mais um pouco só para ter certeza, porque no fundo a única certeza que ela tinha, é que se nada desse certo ela voltaria para o sorriso motivado pelo abrir da sua janela.

Carolina Assis

Não, não pense que é sempre bom, não sou a-toda-boa, a toda alegre o tempo todo, a toda amorosa constantemente. Eu sou estranha, tenho gestos e pensamentos e encanações e neuras e filosofias viajantes e temperamento salgado e toda uma série de e’s que não consigo ajustar aqui, agora, pra você, talvez por não saber ajustá-los nem pra mim. Mas deixa isso tudo pra lá, eu e a minha estranhice, estranheza, estranhagem, estranhamento, estranhação. Estranha ação. É isso aí, sou cheia de estranhas ações. Uma delas é tentar explicar o sentido de uma coisa que nem sentido faz.
[Clarissa Corrêa]

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Eu olho pra sua tatuagem...


...e pro tamanho do seu braço e pros calos da sua mão e acho que vai dar tudo certo. Me encho de esperança e nada. Vem você e me trata tão bem. Estraga tudo. Mania de ser bom moço, coisa chata. Eu nunca mais quero ouvir que você só tem olhos pra mim, ok? E nem o quanto você é bom filho. Muito menos o quanto você ama crianças. E trate de parar com essa mania horrível de largar seus amigos quando eu ligo. Colabora, pô. Tá tão fácil me ganhar, basta fazer tudo pra me perder. E lá vem ele dizer que meu cabelo sujo tem cheiro bom. E que já que eu não liguei e não atendi, ele foi dormir. E que segurar minha mão já basta. E que ele quer conhecer minha mãe. E que viajar sem mim é um final de semana nulo. E que tudo bem se eu só quiser ficar lendo e não abrir a boca. Com tanto potencial pra acabar com a minha vida, sabe o que ele quer? Me fazer feliz. Olha que desgraça. O moço quer me fazer feliz. E acabar com a maravilhosa sensação de ser miserável. E tirar de mim a única coisa que sei fazer direito nessa vida que é sofrer. Anos de aprimoramento e ele quer mudar todo o esquema. O moço quer me fazer feliz. Veja se pode. Não dá, assim não dá. Deveria ter cadeia pra esse tipo de elemento daninho. Pior é que vicia. Não é que acordei me achando hoje? Agora neguinho me trata mal e eu não deixo. Agora neguinho quer me judiar e eu mando pastar. Dei de achar que mereço ser amada. Veja se pode. Anos nos servindo de capacho, feliz da vida, e aí chega um desavisado com a coxa mais incrível do país e muda tudo. Até assoviando eu tô agora. Que desgraça. Ontem quase, quase, quase ele me tratou mal. Foi por muito pouco. Eu senti que a coisa tava vindo. Cruzei os dedos. Cheguei a implorar ao acaso. Vai, meu filho. Só um pouquinho. Me xinga, vai. Me dá uma apertada mais forte no braço. Fala de outra mulher. Atende algum amigo retardado bem na hora que eu tava falando dos meus medos. Manda eu calar a boca. Sei lá. Faz alguma coisa homem! E era piada. Era piadinha. Ele fez que tava bravo. E acabou. Já veio com o papo chato de que me ama e começou a melação de novo. Eita homem pra me beijar. Coisa chata. Minha mãe deveria me prender em casa, me proteger, sei lá. Onde já se viu andar com um homem desses. O homem me busca todas as vezes, me espera na porta, abre a porta do carro. Isso quando não me suspende no ar e fala 456 elogios em menos de cinco segundos. Pra piorar, ele ainda tem o pior dos defeitos da humanidade: ele esqueceu a ex namorada. Depois de trinta anos me relacionando só com homens obcecados por amores antigos, agora me aparece um obcecado por mim que nem lembra direito o nome da ex. Fala se tão de sacanagem comigo ou não? Como é que eu vou sofrer numa situação dessas? Como? Me diz? Durmo que é uma maravilha. A pele está incrível. A fome voltou. A vida tá de uma chatice ímpar. Alguém pode, por favor, me ajudar? Existe terapia pra tentar ser infeliz? Outro dia até me belisquei pra sofrer um pouquinho. Mas o desgraçado correu pra assoprar e dar beijinho.

Tati Bernardi

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mas fica...

Mas fica, meu amor, quem sabe um dia
Por descuido ou poesia
Você goste de ficar.
[Chico Buarque]


Dessa vez já no seu carro eu fiquei pensando no que eu gostaria de escrever para você, de como a noite estava linda, mas nem lembrei de olhar para as estrelas com você do meu lado, que eu aproveitei cada segundinho das horas que passamos juntos para decorar a exata cor do seu olho claro, e de como meu corpo se agitava só de você me dizer alguma coisa encantadora. Mas deixei disso, aproveitei aquele momento que você parou de falar, e olhou bem para mim, e disse tudo isso para você. Admiti a minha inocência em querer ser só sua amiga, e a mentira disso tudo, admiti que não sei lutar por você, nem por ninguém para falar a verdade, mas isso não quer dizer que eu não esteja tentando. Eu sei que disse muita coisa, pela primeira vez consegui ser eu mesma com você , alias, eu falei sobre isso também. E você me ouviu, ouvindo parecendo que queria ouvir. Parecia entender que eu sempre serei a que corre atrás de borboleta assim que vejo uma, sou tão infantil ao ponto de me empolgar com algo, e falar meia hora seguida disso sem dizer nada. Sempre serei, e sempre desejarei que você queira tudo isso, queira esse amontoado de expectativa que eu coloco em cada palavra que eu escrevo, que nunca chega aos seus olhos. Não, não quero escrever pensando que você vai ler. Quero poder te falar tudo isso olhando nos seus olhos verdes, gaguejando e tentando fazer minha perna para de tremer. Que você por inteiro, sem traumas, sem passado. Comigo ao seu lado.

Carolina Assis

Eu era sua, a sua menina, a sua criança, a sua mulher, a sua escritora predileta, a sua parceira de dar risada de programas estúpidos que passam de madrugada na TV, a sua amiga sensível que tinha medo de amar demais, assim como você. Eu era a mulher que encaixava a cabeça nas suas costas e sabia que tinha nascido a partir de você, eu era a mulher que esperava sofridamente você voltar mas nunca deixou de te amar mesmo quando você ia. Todo mundo me fala que eu preciso ser minha, inclusive pra ser sua, mas eu não deixo de olhar para o espelho e ver uma metade de gente, uma metade de sonho, de sexo, de alegria e de futuro. Que se foda a auto-ajuda, que se fodam os livros com homens carecas, que se foda o terceiro olho e que se foda a psicologia: eu sou mesmo metade sem você e que se foda! Se antes de você aparecer eu já te amava, eu já te esperava, eu já sabia que você existia, como eu posso não te amar agora que você tem forma, sorriso, coração e nome?
[Tati Bernardi]

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

E tudo me deu um enjôo. Tinha medo não.

Tinha era cansaço de esperança
[João Guimarães Rosa]

Acredito ser alguma punição por ela sentir tanto e imaginar tanta coisa. Desiste toda semana, mas é ele aparecer com a camisa polo que ela lhe comprou, que tudo muda. Sai pulando exalando felicidade, sorri até os lábios se cansarem, e deita na cama fazendo planos do futuro deles. Não tem futuro minha filha. Não tem. Ele vai e volta, por sua causa. Não por você. Ele vem quando sente saudade porque você é boa, mas não fica muito tempo porque outras são boas também, talvez até melhores. Não fica ai deitada com o pijama que ele deu, achando que ele te ta deitado esperando você. Mas ela sabe de tudo isso, ela sabe porque hora outra ele sai por ai destruindo cada pulo de felicidade que ela tinha dado. Ele transforma aquela coisa boa, na revolta que ela já esta acostumada a sentir. E fica repetindo para si mesma que agora é ponto final. Mas já foram tantos, que o texto da vida deles só tem reticencias, e cada uma com uma lágrima pendurada naqueles lábios que outro dia estavam cansados de tanto sorrir. Ela levanta da cama, tira o pijama, e veste a mascara de que não quer saber mais de nada. Mas a primeira coisa que faz é checar para ver se pode ter tudo, é alertar seu coração para pensar nele um pouco, por medo de esquecer. É, tem medo de esquecer, mas não sabe lutar. Jura que não tem mais espaço para esperança, mas ele aumenta toda vez que o cara lhe da colo. Porque ele da. Ele fica por perto. Ele é tão bom, que nos raros momentos que ele faz algo que a chateia, ela se revolta, porque isso lhe da força. Ela xinga, desiste até a próxima buzina do carro dele tocar e faz tudo de novo. Mas dessa vez ela decidiu só vim escrever.

Carolina Assis

Vamos fazer assim. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores. Seria exagero dizer que você faz o mundo melhor. Você não é pra tanto, mal dá pro gasto. Mas que fica tolerável, não posso negar. É que… já não estamos nos falando direito mesmo, então acho que preciso aproveitar que nós dois não somos uma aposta segura a longo prazo e que também não sou assim, tão louca por você.
[Gabito Nunes]

Ela era sim, uma boa mentirosa.

Amo tanto, mas tanto, que te deixo em paz.

[Tati Bernardi]

Eu sugeri, de novo, de novo, como todas as outras vezes, que você viesse aqui. Dei uma desculpa qualquer, algo do momento. Que servia, talvez não, mas era o que eu tinha para hoje. Mas dessa vez foi de bem levinho, foi quase um murmuro dizendo que meu peito gritava desesperadamente pedindo pela sua presença. De uma forma bem subliminar. Um vem aqui trazer meu doce. O doce que sua mãe achou uma delicia, e você insiste em falar que ficou ruim. E você veio. Não, não foi só isso. Sem esforço algum da minha parte você perguntou se podia vim, se podia me trazer. E você veio. E enquanto não chegava, coloquei uma calça, sentei na cama e esperei. Esperei como espero todos os dias por você... Mas dessa vez sabendo que você viria. E você veio. E meu coração acelerou tanto, que eu fiquei com medo de morrer antes do seu carro aparecer na minha porta. Mas sobrevivi... Sobrevivi para ver tudo que eu havia imaginado escorregar pelo meu corpo e parar no seu, tão longe de mim, mesmo tão perto. Não senti seu perfume, mas também não lembrei da minha dor no corpo, que tinha aparecido hoje de manha. Ganhei um abraço apertado seu na hora de você chegar, e na hora de você ir. Mas foi só um. Você deitou no chão da minha sala, tão perto de mim, que eu queria era te puxar para meu colo e afagar seu cabelo até o outro dia. mas não fiz nada disso. Não fiz, porque seus olhos não brilharam como eu esperava, seu sorriso nao foi tão largo como da ultima vez. E você não ficou segurando minha mão, nem perguntou como eu estava. E da ultima vez eu tinha ficado exausta de tanta felicidade que eu senti, com tudo isso que você tinha feito, que dessa vez eu não me manifestei para mudar nada. Eu te olhei como um amigo, mesmo que nenhum dos meus amigos jamais tenha feito meu coração pular pela boca, nem eu esquecer alguma dor física. Mas mesmo assim te aceitei da exata forma que você deitou no chão da minha sala e falou de coisas que não eram sobre nós. Eu te aceitei, porque eu havia te esperado, e você tinha vindo. Eu te aceitei porque eu pedi sua presença não foi? Eu te aceitei, porque eu não sei se um dia, eu poderei fazer mais do que isso.

Carolina Assis

Eu te amo de um jeito tão impossível que é como se eu nem te amasse.
E aí eu desencano desse amor, de tanto que eu encano.
Pois ninguém acredita na gente, nem você.
[Tati Bernardi]

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Venha, não tenha medo. É só o mar.

Não, eu não sei nadar. Eu te ajudo, vem. Confia, vem. Estica a perna assim, abre o braço assim. Respira assim. Vem. Mas eu não sei. Mas eu tô aqui. Olhe meus olhos tão arregalados, como posso guardar mentira aqui? Eu posso cantar pra você, eu posso te segurar, eu posso ficar aqui até você conseguir. Eu não sei. Tá perto. Vai. Solta da borda. Eu sei, você já foi parar no fundo. Mas agora é diferente. Tá mais raso. E eu tô aqui. Eu vim do outro lado do oceano. Eu vim só por sua causa. Vem, larga da borda. Pode vir. Eu vi você como você é e é por isso que estou aqui. Confia. Não sei. Pode vir. Não tem mais ninguém. A borda é para os peixes pequenos. Solta, isso, relaxa a cabeça no meu peito. Não tem fundo mas eu te ajudo a flutuar. Você pode. Calma. Afoga um pouco no começo, cansa, desespera. Mas você quer como eu quero? Quero. Então eu te ajudo.
[Tati Bernardi]


Seus olhos me lembram meus sonhos. Nunca tinha visto cor parecida, mas sentia como se a esperasse desde sempre. Gosto de ficar te olhando, só esperando quando você vai sorrir, porque você sempre sorri. Sempre faz um piadinha, que se eu contar ninguém ri, mas vindo de você eu quase perco o fôlego. E quando você se levantou da minha cama, eu desejei com todas minhas forças poder te fazer o bem que você me faz. Que você pudesse ter esse amor louco que você sempre tem pelas pessoas erradas, por mim. Que o nosso amor fosse abençoado pelo meu Deus, e por todos os outros, para que ele durasse para sempre, e mesmo depois que morrêssemos, que nosso amor ainda pudesse ser citado como algo real e incrível, e que sirva de inspiração para outros casais, como serve hoje para minhas escritas. Gostaria que sua imagem de cara que sofre, passasse para o cara que é amado, e que tem muita sorte por isso. Eu queria também que você soubesse a sorte que tem. Não por me ter, minha falta de humildade não chega a tanto, mas por ter um amor tão grande a sua espera, a sua porta, no banco do seu carro, no corredor da sua faculdade... Nos meus olhos. Não por me ter, repito. Mas por nos ter. Por ter nossa intimidade, nossos abraços que nunca duram menos que dez minutos, pelos nossos sorrisos um pelo outro. Pela nossa vida. Pelo nosso amor. Pelo meu amor, que eu sonho, espero, e desejo, que um dia seja nosso.

Carolina Assis

Eu te amo agora pelo que já compartilhamos...

...e te amo agora esperando por tudo o que virá.


Nunca entendi o motivo de não ter conseguido escrever uma frase que fosse para você. Foram tantos meses, e nenhuma palavrinha que eu pudesse ter certeza, essa é para ele, saiu de mim. Era estranho, porque todos os caras tinham recebido ao menos um textinho, até um que não significou assim tanta coisa, e não durou tantos dias, recebeu alguma coisa escrita por mim. Mas você não. Você insistia em ser melhor do que qualquer coisa eu pudesse escrever. E eu tive tanta vontade de por tudo que eu sentia em palavras, só para tornar mais real, mais palpável. Que eu pudesse visualizar todo esse amor, que cresceu a cada dia durante o ano que passou.
Mas não conseguia. E olha, anota ai, não foi por falta de tentativas. Mas não dava, e quanto mais os dias corriam, eu lembrei o porque eu gostava tanto de você, e o porque você não me lembrava nada do meu passado. Você foi diferente de todos. O começo, o meio, as brigas, os ciumes, e principalmente o fato de gostar de outra pessoa. Você fez tudo diferente, fez tudo ser muito novo, fez eu sentir um amor maduro, e só por isso eu nunca consegui escrever nada para você. Porque isso era incomum, e você era incomum. Você tinhas os olhos que pareciam enxergar minha alma, mas me fazia rir com coisas superficiais, e eu tive vontade de ser todas as perguntas que você evita fazer, ser seu medo de não aguentar tudo que a vida te faz enfrentar. Eu quis ser sua força, seu sorriso, seus pulinhos de felicidade. Eu quis ser tanta coisa para você, que meu amor não coube mais em mim e transbordou nesse texto, sobre como eu nunca consegui escrever para você. Antes eu escrevi para suprir meu amor por eles, para aumenta-lo... Por você eu precisei escrever para que ele pudesse caber em algo que não fosse apenas meu coração, minha vida, ou meu dias. Desejei tanto poder escrever algo que levasse seu nome, que no hoje eu preciso disso, para guardar o excesso de amor que você insisti em não usar.

Carolina Assis

Taí. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo de todas as maneiras possíveis. Sem pressa, como se só saber que você existe já me bastasse. Sem peito, como se só existisse você no mundo e eu pudesse morrer sem o seu ar. Sem idade, porque a mesma vontade que eu tenho de transar com você no banheiro eu tenho de passear de mãos dadas com você empurrando nossos netos. E por fim te amo até sem amor, como se isso tudo fosse tão grande, tão grande, tão absurdo, que quase não é. Eu te amo de um jeito tão impossível que é como se eu nem te amasse. E aí eu desencano desse amor, de tanto que eu encano. Pois ninguém acredita na gente, nem você. Mas eu te amo também do jeito mais óbvio de todos: eu te amo burra. Estúpida. Cega. E eu acredito na gente.
[Tati Bernardi]

Mas teve uma hora que parecia que ia dar certo...

[Caio Fernando Abreu]


Talvez até dará...

Você chegou aqui em casa com aquela carinha de sempre, com os olhos brilhando tanto, que eu quase acreditei ser o motivo. Teve uma conversa com meu pai enquanto fui ao meu quarto com pretexto de... Não me lembro, mas na hora sei que pensei em algo. E quando voltei, vi o homem durão que não trocou mais do que cinco palavras com meu melhor amigo, conversando sobre politica com você. E olha só, você o fez rir, como você me faz rir, como faz rir todos que estão perto de você. Porque mesmo não sendo o cara que sorri com os olhos, você sabe como arrancar sorrisos sinceros de qualquer um. Principalmente de mim, enquanto esteve por perto não lembrei do trabalho que andava me preocupando, nem da dor de cabeça que noite passada não me deixou dormir, em cada minuto que esteve aqui, sim, minutos, pois o tempo insisti em passar tão rápido quando você esta comigo, que os segundos praticamente não existem, bom, mas voltando a narrativa, a cada minuto que esteve aqui eu só consegui pensar em uma coisa... Como daríamos certo todos os dias, inclusive naqueles que tudo resolve dar errado, nós daríamos certo. Como eu desejo que a gente dê certo, e principalmente que você deseje a mesma coisa. E quando você disse que precisava ir embora, você não se moveu, e aquilo significou mais para mim do que todas as palavras que um dia eles já me disseram. E quando você enfim conseguiu passar pelo meu portão e abrir a porta do seu carro, embora eu tenha tido uma vontade absurda de entrar nele e dirigir com você até o outro dia, sem destino algum, eu fiquei feliz por você estar partindo de um jeito que aprecia que iria voltar. Porque eu senti que dessa vez você voltaria, que dessa vez você tinha um motivo para ficar, e esse motivo levava meu nome. Nosso nome. E depois do seus inúmeros abraços apertados, eu tive que te deixar ir, sem grande esforço. Não é que tenha me acostumado com você partindo, é que dessa vez, eu acredito na sua volta.

Carolina assis

Quando há medo de ir embora, é porque vale a pena ficar.
[Vinícius Queiroz]

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

É mais corajoso quem não tem medo de voar pelo mundo ou quem aguenta ficar dentro de si?

[Tati Bernardi]

A música estava altíssima, e mesmo sem ouvir som algum vindo de sua boca, eu me reconheci assim que ela começou a falar. Vim para o país desejando poder ser igual a ela, das imagens que eu tinha nas minhas lembranças, ela era a mulher que um dia eu quis me tornar. Agora, eu a via como a menina que eu havia sido. Embora tenha nascido anos antes de mim, suas atitudes lembravam as minhas de anos atrás. Fomos as mesmas, em épocas diferentes. Sua voz tentava competir com a musica em altura, mas não queria ser ouvida, queria ser notada. Eu também quis. Saia de casa com a intenção de voltar sendo algo mais do que antes, mas nunca me satisfazia. Queria brilhar independente da luz que precisasse usar, e nunca era a minha. Falava mais do que fazia valer. Gesticulava, mostrando meu espaço, e desejando o máximo daquelas pessoas, que no fundo nunca me interessaram de verdade, em volta do meu teatro. Mais tarde soube o motivo de toda aquela gesticulação e salto alto que ela também insistia em usar. Ainda que mais alta que eu, tinha a necessidade de ser vista, não apenas pelos alvos, mas por todos daquele salão. A ultima vez que eu desejei ser querida por olhares que não faziam parte da minha vida, eu me arrependi. Não me lembro quando foi, mas sei que me arrependi. Todas as vezes me arrependi. Todas as vezes voltei para casa com um vazio tão filha da puta, que insista em esfregar na minha cara, que todos aqueles rosto nas inúmeras fotos de cada noite, não sabiam minha cor preferida, não haviam andado comigo na chuva, e nem conheciam minha paixão pelo vento. Alguns não sabiam nem o meu nome, apenas me reconheciam, de quem achava que era meu amigo, mas que nunca perguntou o estado de saúde da minha mãe. Isso hoje me parece tão óbvio, de todas as pessoas que passaram pelos meus dias, as que meus pais conheceram são as que ficaram. São as que foram chamadas para uma festa lá em casa, e ao entrar no quarto descobriram minha cor preferida. Mas antes, eu era igual a ela. Vê-la deixava meu rosto quente, e minha cabeça cheia. Mas não poderia esconder o sorriso, de encontrar a mim mesma anos depois. Passei tanto tempo tentando mudar, que não pude perceber quando mudei. Não me dei ao luxo de admitir que tinha sido capaz de me tornar uma pessoa melhor. Tão preocupada em chegar ao final, que não percebi como foi todo o caminho. Decepcionei-me ao ver a mulher que admirava, ainda ser a menina que um dia desprezei. Ela estava sendo meu espelho de anos atrás, contudo era o agora que pude enxergar com tanta clareza. Lembrei das noites que fui dormir querendo acordar no dia seguinte de uma forma melhor, de uma forma mudada, e não percebi que dormir pensando nisso já era minha própria mudança.

Carolina Assis

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui para satisfazer as delas. Temos que nos bastar, nos bastar sempre, e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém. As pessoas não se precisam, elas se completam, não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
[Mario Quintana]

sábado, 14 de janeiro de 2012

E tento me vestir, sem carregar a esperança de esbarrar com você por aí.

Tati Bernardi

Não encontrava forma de expressar, e nem poderia. Você chega lá em casa, com aquela cara, de que poderia estar com outra, mas vim te ver, só porque você sabe que mesmo se eu tivesse outro, estaria ali mesmo, te esperando. Você no aprendizado de gostar de mim mesmo sem lhe dar oportunidade, só acabou fazendo isso porque sinto o mesmo por você. Você gosta de ver que é capaz uma mulher gostar tanto de alguém como você gosta dela. É isso mesmo, você só gosta de mim e suporta minhas crises neuróticas porque eu gosto de você. Simples. Mas não o suficiente. De todas as costas que vejo entrar no carro que esta na porta da minha casa, a sua é que consegue mais me incomodar. Da uma vontade absurda de segurar pela camisa que eu te comprei quando fui viajar, nunca sei se é porque o quero te acompanhar ou se é para você ficar. Nunca soube se te comprei aquela camisa porque sempre quis presentar alguém, ou se porque você foi o único que eu me importei em sabe o tamanho. M. Um M masculino que se encaixava perfeitamente no meu PP feminino. A marca era a mesma, como a nossa. A cor era diferente, como a nossa. Mas no final era para a mesma coisa, era para se vestir. E nós nos vestíamos todos os dias, mas eu nunca fui sua roupa preferida, era apenas aquela que se adaptava ao seu M, mas que no fundo você só usava quando estava em casa, porque era confortável. Não sou confortável, quis te gritar muitas vezes. Junto com todas as outras que desejei segurar seu rosto iluminado pela luz do carro na porta da minha casa, para dizer que queria que você entrasse, queria que você ficasse, queria que você não fosse embora. Mas do que isso queria que você fosse capaz de não desejar ir embora, de não desejar outras camisas. De olhar para mim e querer me vestir, mesmo sabendo que nunca serei capaz de ser exatamente do seu tamanho.

Carolina Assis

Então te amo de novo, infinitamente, quase sem ar.
E depois isso passa. Depois te esqueço.
Como já esqueci tantas vezes.
[Tati Bernardi]

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pra ficar do meu lado tem que ser melhor que minha própria companhia.


Não me sonhe, por favor. Pessoas que acham que podem me amar me ofendem. É sempre muito pouco o que elas podem e é sempre muito diferente do que deveria ser amor o que elas oferecem. Eu custo a suportar a banalidade do meu ser. Eu custo a aceitar uma relação como a que qualquer um poderia ter. Eu seria mais feliz se eu não me achasse melhor do que a minha vizinha. Mas eu sou infinitamente melhor que ela. Eu e minhas crises de ansiedade somos seres solitários, arrogantes e multiplicados por megalomanias. Eu continuo me achando melhor que o amor igual e idiota que se oferece por ai. É sempre nojento quando aparece alguém que quer tentar me amar. Sempre daquele jeito burocraticamente aos poucos e equilibrado. Homens adoram mulheres que se permitem galantear e sorrir entregues para seus lampejos de semi genialidade. O problema é que eu quase sempre sou muito mais engraçada e rápida e semi genial que eles. Sou imatura, egocêntrica e debilmente iludida por uma auto-estima analgésica de efeito rebote. E dane-se. Um dia o meu amor verdadeiro chegará e será diferente de tudo isso e nós vamos chorar de emoção por ter valido a pena não sangrar até a morte nos insistentes e rotineiros momentos de angústia e nada e vazio e solidão e inconformismo.

Tati Bernardi

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pra mim é tudo ou nunca mais...


...O problema é que o “nunca mais” dura só umas horas.
[Tati Bernardi]

Tinha uns papeis em cima da minha escrivaninha. Em branco. Significavam que mais uma vez eu tinha passado boa parte da noite tentando preenche-los. Apenas tentativas. Não saiu uma letrinha se quer, alias depois que você aconteceu, nunca mais consegui por as coisas em palavras. A verdade é que sempre me abriguei em todas elas, podia ser algo complicado, como de fato era, mas nas linhas ficavam simples, legíveis, tinham algum nexo, algum sentido. Mesmo que esse sentido desaparecesse segundos depois, eu podia saborear esse pequeno momento de lucidez. E pensar nisso ainda me dava um aperto, por descobrir que explicar as coisas não as tornavam mais fáceis, tornavam impossíveis. No momento em que minhas historias passavam a ser lidas não havia motivo para que eu as vivesse. Era um tipo de fuga. E me enganei ao pensar que era fuga da realidade, era fuga mesmo das pessoas, que eram tão vazias que eu precisava idealizar e criar um ego a parte que me fizesse vibrar por estar viva e com cada um deles. A cada momento que acontecia em forma de palavras eu tinha a certeza que esta tudo bem, que eu podia continuar. Mas você teimoso, como sempre, insisti em ser melhor do que qualquer idealização que eu possa fazer, e insisti em me manter por perto, mas não perto o suficiente. Com nós não pode ser assim, você fez o favor de deixar minha vida de ponta cabeça, mas de um jeito tão bom, que quero que ela permaneça assim por muito tempo. Eu diria para sempre, mas muito tempo dura mais que meu para sempre. Então deixa assim por muito tempo. Sem palavras, sem descrições, sem fuga. Só uma certeza que se eu for correr de algo, vai ser da vontade de correr pra longe.
Carolina Assis

Às vezes é preciso diminuir a barulheira,
parar de fazer perguntas,
parar de imaginar respostas,
aquietar um pouco a vida para simplesmente
deixar o coração nos contar o que sabe.
E ele conta. Com a calma e a clareza que tem.
[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Não vou dizer que é fácil e que nunca deu vontade de desistir...

...mas vale muito mais a pena continuar.
[Tati Bernardi]

Sou uma cética que crê em tudo,
uma desiludida cheia de ilusões,
uma revoltada que aceita,
sorridente, todo o mal da vida,
uma indiferente a transbordar de ternura.
[Florbela Espanca]

Não sei lutar pelas pessoas. Pronto, admito. Não sei e não sei. Mesmo sabendo ensinar isso a todas as meninas que insistem em me pedir conselhos, alegando que sou segura e sempre sei o que fazer. Não, eu não sei. Isso não. Não sei sorrir para alguém diferente do que eu sorrio para todo mundo, não sei mostrar meu amor de forma intensa, porque sempre o demonstro de todas as outras. Não sei diferenciar uma amizade profunda da superficial, sempre quero cuidar de todo mundo. Não, quase todo mundo. Não sei ir atrás sem me sentir arrependida, ou achando que estou fazendo muito, mesmo que na realidade não esteja fazendo nada notável. Não faço nem nunca fiz. Dai ilumina aquele pedacinho do meu pensamento que insisti em dizer, você não não sabe lutar porque nunca o fez. Não, nuca. Admito. Não sou corajosa como exalta meu signo, nem evoluída o suficiente para amar alguém mais do que a mim. Não sei ser feliz sentindo saudade, agonia e a duvida patética, de todas menininhas depois de um encontro, sobre os sentimentos do cara da vez. Que provavelmente será menor do que elas esperam. É, não sou corajosa, embora seja sagitariana, não sei sair por ai arriscando felicidade a espera de uma alegria em forma masculina. Mas algumas noites atrás eu fui a menininha patética depois dos encontros que insisti em esperar uma ligação sua, e você sempre liga. Queria admitir que não sei sorrir mais bonito para você, mas seu olhar sempre me da o mais bonito, sua mão na minha cintura insisti em ser melhor que os filmes de fim de tarde com chocolate quente que eu tanto amo, sua forma masculina continua enfrentando todas minhas felicidades e me fazendo arrisca-las por você, só por ser a forma mais bonita que eu já vi. Mas isso não muda o fato que eu não sei lutar, não sei, e não sei. Mas estou disposta aprender, como venho fazendo com meu sorriso, que insisti em ser mais bonito para você.

Carolina Assis

Claro que eu adoro minha casa, meu cachorro, meus amigos, meus livros, músicas. Tenho uma vida ótima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem chegando. Ou de quando o telefone tocava e eu sabia que era ele e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de morrer antes de falar “alô”.
[Tati Bernardi]