segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Mas fica...

Mas fica, meu amor, quem sabe um dia
Por descuido ou poesia
Você goste de ficar.
[Chico Buarque]


Dessa vez já no seu carro eu fiquei pensando no que eu gostaria de escrever para você, de como a noite estava linda, mas nem lembrei de olhar para as estrelas com você do meu lado, que eu aproveitei cada segundinho das horas que passamos juntos para decorar a exata cor do seu olho claro, e de como meu corpo se agitava só de você me dizer alguma coisa encantadora. Mas deixei disso, aproveitei aquele momento que você parou de falar, e olhou bem para mim, e disse tudo isso para você. Admiti a minha inocência em querer ser só sua amiga, e a mentira disso tudo, admiti que não sei lutar por você, nem por ninguém para falar a verdade, mas isso não quer dizer que eu não esteja tentando. Eu sei que disse muita coisa, pela primeira vez consegui ser eu mesma com você , alias, eu falei sobre isso também. E você me ouviu, ouvindo parecendo que queria ouvir. Parecia entender que eu sempre serei a que corre atrás de borboleta assim que vejo uma, sou tão infantil ao ponto de me empolgar com algo, e falar meia hora seguida disso sem dizer nada. Sempre serei, e sempre desejarei que você queira tudo isso, queira esse amontoado de expectativa que eu coloco em cada palavra que eu escrevo, que nunca chega aos seus olhos. Não, não quero escrever pensando que você vai ler. Quero poder te falar tudo isso olhando nos seus olhos verdes, gaguejando e tentando fazer minha perna para de tremer. Que você por inteiro, sem traumas, sem passado. Comigo ao seu lado.

Carolina Assis

Eu era sua, a sua menina, a sua criança, a sua mulher, a sua escritora predileta, a sua parceira de dar risada de programas estúpidos que passam de madrugada na TV, a sua amiga sensível que tinha medo de amar demais, assim como você. Eu era a mulher que encaixava a cabeça nas suas costas e sabia que tinha nascido a partir de você, eu era a mulher que esperava sofridamente você voltar mas nunca deixou de te amar mesmo quando você ia. Todo mundo me fala que eu preciso ser minha, inclusive pra ser sua, mas eu não deixo de olhar para o espelho e ver uma metade de gente, uma metade de sonho, de sexo, de alegria e de futuro. Que se foda a auto-ajuda, que se fodam os livros com homens carecas, que se foda o terceiro olho e que se foda a psicologia: eu sou mesmo metade sem você e que se foda! Se antes de você aparecer eu já te amava, eu já te esperava, eu já sabia que você existia, como eu posso não te amar agora que você tem forma, sorriso, coração e nome?
[Tati Bernardi]

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

E tudo me deu um enjôo. Tinha medo não.

Tinha era cansaço de esperança
[João Guimarães Rosa]

Acredito ser alguma punição por ela sentir tanto e imaginar tanta coisa. Desiste toda semana, mas é ele aparecer com a camisa polo que ela lhe comprou, que tudo muda. Sai pulando exalando felicidade, sorri até os lábios se cansarem, e deita na cama fazendo planos do futuro deles. Não tem futuro minha filha. Não tem. Ele vai e volta, por sua causa. Não por você. Ele vem quando sente saudade porque você é boa, mas não fica muito tempo porque outras são boas também, talvez até melhores. Não fica ai deitada com o pijama que ele deu, achando que ele te ta deitado esperando você. Mas ela sabe de tudo isso, ela sabe porque hora outra ele sai por ai destruindo cada pulo de felicidade que ela tinha dado. Ele transforma aquela coisa boa, na revolta que ela já esta acostumada a sentir. E fica repetindo para si mesma que agora é ponto final. Mas já foram tantos, que o texto da vida deles só tem reticencias, e cada uma com uma lágrima pendurada naqueles lábios que outro dia estavam cansados de tanto sorrir. Ela levanta da cama, tira o pijama, e veste a mascara de que não quer saber mais de nada. Mas a primeira coisa que faz é checar para ver se pode ter tudo, é alertar seu coração para pensar nele um pouco, por medo de esquecer. É, tem medo de esquecer, mas não sabe lutar. Jura que não tem mais espaço para esperança, mas ele aumenta toda vez que o cara lhe da colo. Porque ele da. Ele fica por perto. Ele é tão bom, que nos raros momentos que ele faz algo que a chateia, ela se revolta, porque isso lhe da força. Ela xinga, desiste até a próxima buzina do carro dele tocar e faz tudo de novo. Mas dessa vez ela decidiu só vim escrever.

Carolina Assis

Vamos fazer assim. Sem traumas. Sem dramas. Sem dores. Seria exagero dizer que você faz o mundo melhor. Você não é pra tanto, mal dá pro gasto. Mas que fica tolerável, não posso negar. É que… já não estamos nos falando direito mesmo, então acho que preciso aproveitar que nós dois não somos uma aposta segura a longo prazo e que também não sou assim, tão louca por você.
[Gabito Nunes]

Ela era sim, uma boa mentirosa.

Amo tanto, mas tanto, que te deixo em paz.

[Tati Bernardi]

Eu sugeri, de novo, de novo, como todas as outras vezes, que você viesse aqui. Dei uma desculpa qualquer, algo do momento. Que servia, talvez não, mas era o que eu tinha para hoje. Mas dessa vez foi de bem levinho, foi quase um murmuro dizendo que meu peito gritava desesperadamente pedindo pela sua presença. De uma forma bem subliminar. Um vem aqui trazer meu doce. O doce que sua mãe achou uma delicia, e você insiste em falar que ficou ruim. E você veio. Não, não foi só isso. Sem esforço algum da minha parte você perguntou se podia vim, se podia me trazer. E você veio. E enquanto não chegava, coloquei uma calça, sentei na cama e esperei. Esperei como espero todos os dias por você... Mas dessa vez sabendo que você viria. E você veio. E meu coração acelerou tanto, que eu fiquei com medo de morrer antes do seu carro aparecer na minha porta. Mas sobrevivi... Sobrevivi para ver tudo que eu havia imaginado escorregar pelo meu corpo e parar no seu, tão longe de mim, mesmo tão perto. Não senti seu perfume, mas também não lembrei da minha dor no corpo, que tinha aparecido hoje de manha. Ganhei um abraço apertado seu na hora de você chegar, e na hora de você ir. Mas foi só um. Você deitou no chão da minha sala, tão perto de mim, que eu queria era te puxar para meu colo e afagar seu cabelo até o outro dia. mas não fiz nada disso. Não fiz, porque seus olhos não brilharam como eu esperava, seu sorriso nao foi tão largo como da ultima vez. E você não ficou segurando minha mão, nem perguntou como eu estava. E da ultima vez eu tinha ficado exausta de tanta felicidade que eu senti, com tudo isso que você tinha feito, que dessa vez eu não me manifestei para mudar nada. Eu te olhei como um amigo, mesmo que nenhum dos meus amigos jamais tenha feito meu coração pular pela boca, nem eu esquecer alguma dor física. Mas mesmo assim te aceitei da exata forma que você deitou no chão da minha sala e falou de coisas que não eram sobre nós. Eu te aceitei, porque eu havia te esperado, e você tinha vindo. Eu te aceitei porque eu pedi sua presença não foi? Eu te aceitei, porque eu não sei se um dia, eu poderei fazer mais do que isso.

Carolina Assis

Eu te amo de um jeito tão impossível que é como se eu nem te amasse.
E aí eu desencano desse amor, de tanto que eu encano.
Pois ninguém acredita na gente, nem você.
[Tati Bernardi]

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Venha, não tenha medo. É só o mar.

Não, eu não sei nadar. Eu te ajudo, vem. Confia, vem. Estica a perna assim, abre o braço assim. Respira assim. Vem. Mas eu não sei. Mas eu tô aqui. Olhe meus olhos tão arregalados, como posso guardar mentira aqui? Eu posso cantar pra você, eu posso te segurar, eu posso ficar aqui até você conseguir. Eu não sei. Tá perto. Vai. Solta da borda. Eu sei, você já foi parar no fundo. Mas agora é diferente. Tá mais raso. E eu tô aqui. Eu vim do outro lado do oceano. Eu vim só por sua causa. Vem, larga da borda. Pode vir. Eu vi você como você é e é por isso que estou aqui. Confia. Não sei. Pode vir. Não tem mais ninguém. A borda é para os peixes pequenos. Solta, isso, relaxa a cabeça no meu peito. Não tem fundo mas eu te ajudo a flutuar. Você pode. Calma. Afoga um pouco no começo, cansa, desespera. Mas você quer como eu quero? Quero. Então eu te ajudo.
[Tati Bernardi]


Seus olhos me lembram meus sonhos. Nunca tinha visto cor parecida, mas sentia como se a esperasse desde sempre. Gosto de ficar te olhando, só esperando quando você vai sorrir, porque você sempre sorri. Sempre faz um piadinha, que se eu contar ninguém ri, mas vindo de você eu quase perco o fôlego. E quando você se levantou da minha cama, eu desejei com todas minhas forças poder te fazer o bem que você me faz. Que você pudesse ter esse amor louco que você sempre tem pelas pessoas erradas, por mim. Que o nosso amor fosse abençoado pelo meu Deus, e por todos os outros, para que ele durasse para sempre, e mesmo depois que morrêssemos, que nosso amor ainda pudesse ser citado como algo real e incrível, e que sirva de inspiração para outros casais, como serve hoje para minhas escritas. Gostaria que sua imagem de cara que sofre, passasse para o cara que é amado, e que tem muita sorte por isso. Eu queria também que você soubesse a sorte que tem. Não por me ter, minha falta de humildade não chega a tanto, mas por ter um amor tão grande a sua espera, a sua porta, no banco do seu carro, no corredor da sua faculdade... Nos meus olhos. Não por me ter, repito. Mas por nos ter. Por ter nossa intimidade, nossos abraços que nunca duram menos que dez minutos, pelos nossos sorrisos um pelo outro. Pela nossa vida. Pelo nosso amor. Pelo meu amor, que eu sonho, espero, e desejo, que um dia seja nosso.

Carolina Assis

Eu te amo agora pelo que já compartilhamos...

...e te amo agora esperando por tudo o que virá.


Nunca entendi o motivo de não ter conseguido escrever uma frase que fosse para você. Foram tantos meses, e nenhuma palavrinha que eu pudesse ter certeza, essa é para ele, saiu de mim. Era estranho, porque todos os caras tinham recebido ao menos um textinho, até um que não significou assim tanta coisa, e não durou tantos dias, recebeu alguma coisa escrita por mim. Mas você não. Você insistia em ser melhor do que qualquer coisa eu pudesse escrever. E eu tive tanta vontade de por tudo que eu sentia em palavras, só para tornar mais real, mais palpável. Que eu pudesse visualizar todo esse amor, que cresceu a cada dia durante o ano que passou.
Mas não conseguia. E olha, anota ai, não foi por falta de tentativas. Mas não dava, e quanto mais os dias corriam, eu lembrei o porque eu gostava tanto de você, e o porque você não me lembrava nada do meu passado. Você foi diferente de todos. O começo, o meio, as brigas, os ciumes, e principalmente o fato de gostar de outra pessoa. Você fez tudo diferente, fez tudo ser muito novo, fez eu sentir um amor maduro, e só por isso eu nunca consegui escrever nada para você. Porque isso era incomum, e você era incomum. Você tinhas os olhos que pareciam enxergar minha alma, mas me fazia rir com coisas superficiais, e eu tive vontade de ser todas as perguntas que você evita fazer, ser seu medo de não aguentar tudo que a vida te faz enfrentar. Eu quis ser sua força, seu sorriso, seus pulinhos de felicidade. Eu quis ser tanta coisa para você, que meu amor não coube mais em mim e transbordou nesse texto, sobre como eu nunca consegui escrever para você. Antes eu escrevi para suprir meu amor por eles, para aumenta-lo... Por você eu precisei escrever para que ele pudesse caber em algo que não fosse apenas meu coração, minha vida, ou meu dias. Desejei tanto poder escrever algo que levasse seu nome, que no hoje eu preciso disso, para guardar o excesso de amor que você insisti em não usar.

Carolina Assis

Taí. O amor venceu. Você venceu. Venceu. Venceu. E eu acabo de descobrir, simples assim, a única maneira de me livrar desse sentimento: aceitando ele, parando de querer ganhar dele. Te amo de todas as maneiras possíveis. Sem pressa, como se só saber que você existe já me bastasse. Sem peito, como se só existisse você no mundo e eu pudesse morrer sem o seu ar. Sem idade, porque a mesma vontade que eu tenho de transar com você no banheiro eu tenho de passear de mãos dadas com você empurrando nossos netos. E por fim te amo até sem amor, como se isso tudo fosse tão grande, tão grande, tão absurdo, que quase não é. Eu te amo de um jeito tão impossível que é como se eu nem te amasse. E aí eu desencano desse amor, de tanto que eu encano. Pois ninguém acredita na gente, nem você. Mas eu te amo também do jeito mais óbvio de todos: eu te amo burra. Estúpida. Cega. E eu acredito na gente.
[Tati Bernardi]

Mas teve uma hora que parecia que ia dar certo...

[Caio Fernando Abreu]


Talvez até dará...

Você chegou aqui em casa com aquela carinha de sempre, com os olhos brilhando tanto, que eu quase acreditei ser o motivo. Teve uma conversa com meu pai enquanto fui ao meu quarto com pretexto de... Não me lembro, mas na hora sei que pensei em algo. E quando voltei, vi o homem durão que não trocou mais do que cinco palavras com meu melhor amigo, conversando sobre politica com você. E olha só, você o fez rir, como você me faz rir, como faz rir todos que estão perto de você. Porque mesmo não sendo o cara que sorri com os olhos, você sabe como arrancar sorrisos sinceros de qualquer um. Principalmente de mim, enquanto esteve por perto não lembrei do trabalho que andava me preocupando, nem da dor de cabeça que noite passada não me deixou dormir, em cada minuto que esteve aqui, sim, minutos, pois o tempo insisti em passar tão rápido quando você esta comigo, que os segundos praticamente não existem, bom, mas voltando a narrativa, a cada minuto que esteve aqui eu só consegui pensar em uma coisa... Como daríamos certo todos os dias, inclusive naqueles que tudo resolve dar errado, nós daríamos certo. Como eu desejo que a gente dê certo, e principalmente que você deseje a mesma coisa. E quando você disse que precisava ir embora, você não se moveu, e aquilo significou mais para mim do que todas as palavras que um dia eles já me disseram. E quando você enfim conseguiu passar pelo meu portão e abrir a porta do seu carro, embora eu tenha tido uma vontade absurda de entrar nele e dirigir com você até o outro dia, sem destino algum, eu fiquei feliz por você estar partindo de um jeito que aprecia que iria voltar. Porque eu senti que dessa vez você voltaria, que dessa vez você tinha um motivo para ficar, e esse motivo levava meu nome. Nosso nome. E depois do seus inúmeros abraços apertados, eu tive que te deixar ir, sem grande esforço. Não é que tenha me acostumado com você partindo, é que dessa vez, eu acredito na sua volta.

Carolina assis

Quando há medo de ir embora, é porque vale a pena ficar.
[Vinícius Queiroz]

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

É mais corajoso quem não tem medo de voar pelo mundo ou quem aguenta ficar dentro de si?

[Tati Bernardi]

A música estava altíssima, e mesmo sem ouvir som algum vindo de sua boca, eu me reconheci assim que ela começou a falar. Vim para o país desejando poder ser igual a ela, das imagens que eu tinha nas minhas lembranças, ela era a mulher que um dia eu quis me tornar. Agora, eu a via como a menina que eu havia sido. Embora tenha nascido anos antes de mim, suas atitudes lembravam as minhas de anos atrás. Fomos as mesmas, em épocas diferentes. Sua voz tentava competir com a musica em altura, mas não queria ser ouvida, queria ser notada. Eu também quis. Saia de casa com a intenção de voltar sendo algo mais do que antes, mas nunca me satisfazia. Queria brilhar independente da luz que precisasse usar, e nunca era a minha. Falava mais do que fazia valer. Gesticulava, mostrando meu espaço, e desejando o máximo daquelas pessoas, que no fundo nunca me interessaram de verdade, em volta do meu teatro. Mais tarde soube o motivo de toda aquela gesticulação e salto alto que ela também insistia em usar. Ainda que mais alta que eu, tinha a necessidade de ser vista, não apenas pelos alvos, mas por todos daquele salão. A ultima vez que eu desejei ser querida por olhares que não faziam parte da minha vida, eu me arrependi. Não me lembro quando foi, mas sei que me arrependi. Todas as vezes me arrependi. Todas as vezes voltei para casa com um vazio tão filha da puta, que insista em esfregar na minha cara, que todos aqueles rosto nas inúmeras fotos de cada noite, não sabiam minha cor preferida, não haviam andado comigo na chuva, e nem conheciam minha paixão pelo vento. Alguns não sabiam nem o meu nome, apenas me reconheciam, de quem achava que era meu amigo, mas que nunca perguntou o estado de saúde da minha mãe. Isso hoje me parece tão óbvio, de todas as pessoas que passaram pelos meus dias, as que meus pais conheceram são as que ficaram. São as que foram chamadas para uma festa lá em casa, e ao entrar no quarto descobriram minha cor preferida. Mas antes, eu era igual a ela. Vê-la deixava meu rosto quente, e minha cabeça cheia. Mas não poderia esconder o sorriso, de encontrar a mim mesma anos depois. Passei tanto tempo tentando mudar, que não pude perceber quando mudei. Não me dei ao luxo de admitir que tinha sido capaz de me tornar uma pessoa melhor. Tão preocupada em chegar ao final, que não percebi como foi todo o caminho. Decepcionei-me ao ver a mulher que admirava, ainda ser a menina que um dia desprezei. Ela estava sendo meu espelho de anos atrás, contudo era o agora que pude enxergar com tanta clareza. Lembrei das noites que fui dormir querendo acordar no dia seguinte de uma forma melhor, de uma forma mudada, e não percebi que dormir pensando nisso já era minha própria mudança.

Carolina Assis

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui para satisfazer as delas. Temos que nos bastar, nos bastar sempre, e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém. As pessoas não se precisam, elas se completam, não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
[Mario Quintana]

sábado, 14 de janeiro de 2012

E tento me vestir, sem carregar a esperança de esbarrar com você por aí.

Tati Bernardi

Não encontrava forma de expressar, e nem poderia. Você chega lá em casa, com aquela cara, de que poderia estar com outra, mas vim te ver, só porque você sabe que mesmo se eu tivesse outro, estaria ali mesmo, te esperando. Você no aprendizado de gostar de mim mesmo sem lhe dar oportunidade, só acabou fazendo isso porque sinto o mesmo por você. Você gosta de ver que é capaz uma mulher gostar tanto de alguém como você gosta dela. É isso mesmo, você só gosta de mim e suporta minhas crises neuróticas porque eu gosto de você. Simples. Mas não o suficiente. De todas as costas que vejo entrar no carro que esta na porta da minha casa, a sua é que consegue mais me incomodar. Da uma vontade absurda de segurar pela camisa que eu te comprei quando fui viajar, nunca sei se é porque o quero te acompanhar ou se é para você ficar. Nunca soube se te comprei aquela camisa porque sempre quis presentar alguém, ou se porque você foi o único que eu me importei em sabe o tamanho. M. Um M masculino que se encaixava perfeitamente no meu PP feminino. A marca era a mesma, como a nossa. A cor era diferente, como a nossa. Mas no final era para a mesma coisa, era para se vestir. E nós nos vestíamos todos os dias, mas eu nunca fui sua roupa preferida, era apenas aquela que se adaptava ao seu M, mas que no fundo você só usava quando estava em casa, porque era confortável. Não sou confortável, quis te gritar muitas vezes. Junto com todas as outras que desejei segurar seu rosto iluminado pela luz do carro na porta da minha casa, para dizer que queria que você entrasse, queria que você ficasse, queria que você não fosse embora. Mas do que isso queria que você fosse capaz de não desejar ir embora, de não desejar outras camisas. De olhar para mim e querer me vestir, mesmo sabendo que nunca serei capaz de ser exatamente do seu tamanho.

Carolina Assis

Então te amo de novo, infinitamente, quase sem ar.
E depois isso passa. Depois te esqueço.
Como já esqueci tantas vezes.
[Tati Bernardi]

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pra ficar do meu lado tem que ser melhor que minha própria companhia.


Não me sonhe, por favor. Pessoas que acham que podem me amar me ofendem. É sempre muito pouco o que elas podem e é sempre muito diferente do que deveria ser amor o que elas oferecem. Eu custo a suportar a banalidade do meu ser. Eu custo a aceitar uma relação como a que qualquer um poderia ter. Eu seria mais feliz se eu não me achasse melhor do que a minha vizinha. Mas eu sou infinitamente melhor que ela. Eu e minhas crises de ansiedade somos seres solitários, arrogantes e multiplicados por megalomanias. Eu continuo me achando melhor que o amor igual e idiota que se oferece por ai. É sempre nojento quando aparece alguém que quer tentar me amar. Sempre daquele jeito burocraticamente aos poucos e equilibrado. Homens adoram mulheres que se permitem galantear e sorrir entregues para seus lampejos de semi genialidade. O problema é que eu quase sempre sou muito mais engraçada e rápida e semi genial que eles. Sou imatura, egocêntrica e debilmente iludida por uma auto-estima analgésica de efeito rebote. E dane-se. Um dia o meu amor verdadeiro chegará e será diferente de tudo isso e nós vamos chorar de emoção por ter valido a pena não sangrar até a morte nos insistentes e rotineiros momentos de angústia e nada e vazio e solidão e inconformismo.

Tati Bernardi

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Pra mim é tudo ou nunca mais...


...O problema é que o “nunca mais” dura só umas horas.
[Tati Bernardi]

Tinha uns papeis em cima da minha escrivaninha. Em branco. Significavam que mais uma vez eu tinha passado boa parte da noite tentando preenche-los. Apenas tentativas. Não saiu uma letrinha se quer, alias depois que você aconteceu, nunca mais consegui por as coisas em palavras. A verdade é que sempre me abriguei em todas elas, podia ser algo complicado, como de fato era, mas nas linhas ficavam simples, legíveis, tinham algum nexo, algum sentido. Mesmo que esse sentido desaparecesse segundos depois, eu podia saborear esse pequeno momento de lucidez. E pensar nisso ainda me dava um aperto, por descobrir que explicar as coisas não as tornavam mais fáceis, tornavam impossíveis. No momento em que minhas historias passavam a ser lidas não havia motivo para que eu as vivesse. Era um tipo de fuga. E me enganei ao pensar que era fuga da realidade, era fuga mesmo das pessoas, que eram tão vazias que eu precisava idealizar e criar um ego a parte que me fizesse vibrar por estar viva e com cada um deles. A cada momento que acontecia em forma de palavras eu tinha a certeza que esta tudo bem, que eu podia continuar. Mas você teimoso, como sempre, insisti em ser melhor do que qualquer idealização que eu possa fazer, e insisti em me manter por perto, mas não perto o suficiente. Com nós não pode ser assim, você fez o favor de deixar minha vida de ponta cabeça, mas de um jeito tão bom, que quero que ela permaneça assim por muito tempo. Eu diria para sempre, mas muito tempo dura mais que meu para sempre. Então deixa assim por muito tempo. Sem palavras, sem descrições, sem fuga. Só uma certeza que se eu for correr de algo, vai ser da vontade de correr pra longe.
Carolina Assis

Às vezes é preciso diminuir a barulheira,
parar de fazer perguntas,
parar de imaginar respostas,
aquietar um pouco a vida para simplesmente
deixar o coração nos contar o que sabe.
E ele conta. Com a calma e a clareza que tem.
[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Não vou dizer que é fácil e que nunca deu vontade de desistir...

...mas vale muito mais a pena continuar.
[Tati Bernardi]

Sou uma cética que crê em tudo,
uma desiludida cheia de ilusões,
uma revoltada que aceita,
sorridente, todo o mal da vida,
uma indiferente a transbordar de ternura.
[Florbela Espanca]

Não sei lutar pelas pessoas. Pronto, admito. Não sei e não sei. Mesmo sabendo ensinar isso a todas as meninas que insistem em me pedir conselhos, alegando que sou segura e sempre sei o que fazer. Não, eu não sei. Isso não. Não sei sorrir para alguém diferente do que eu sorrio para todo mundo, não sei mostrar meu amor de forma intensa, porque sempre o demonstro de todas as outras. Não sei diferenciar uma amizade profunda da superficial, sempre quero cuidar de todo mundo. Não, quase todo mundo. Não sei ir atrás sem me sentir arrependida, ou achando que estou fazendo muito, mesmo que na realidade não esteja fazendo nada notável. Não faço nem nunca fiz. Dai ilumina aquele pedacinho do meu pensamento que insisti em dizer, você não não sabe lutar porque nunca o fez. Não, nuca. Admito. Não sou corajosa como exalta meu signo, nem evoluída o suficiente para amar alguém mais do que a mim. Não sei ser feliz sentindo saudade, agonia e a duvida patética, de todas menininhas depois de um encontro, sobre os sentimentos do cara da vez. Que provavelmente será menor do que elas esperam. É, não sou corajosa, embora seja sagitariana, não sei sair por ai arriscando felicidade a espera de uma alegria em forma masculina. Mas algumas noites atrás eu fui a menininha patética depois dos encontros que insisti em esperar uma ligação sua, e você sempre liga. Queria admitir que não sei sorrir mais bonito para você, mas seu olhar sempre me da o mais bonito, sua mão na minha cintura insisti em ser melhor que os filmes de fim de tarde com chocolate quente que eu tanto amo, sua forma masculina continua enfrentando todas minhas felicidades e me fazendo arrisca-las por você, só por ser a forma mais bonita que eu já vi. Mas isso não muda o fato que eu não sei lutar, não sei, e não sei. Mas estou disposta aprender, como venho fazendo com meu sorriso, que insisti em ser mais bonito para você.

Carolina Assis

Claro que eu adoro minha casa, meu cachorro, meus amigos, meus livros, músicas. Tenho uma vida ótima. Mas nenhuma dessas coisas se comparava ao prazer que eu tinha ao ouvir o barulhinho de uma mensagem chegando. Ou de quando o telefone tocava e eu sabia que era ele e o meu coração disparava tanto que eu tinha medo de morrer antes de falar “alô”.
[Tati Bernardi]