segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

É mais corajoso quem não tem medo de voar pelo mundo ou quem aguenta ficar dentro de si?

[Tati Bernardi]

A música estava altíssima, e mesmo sem ouvir som algum vindo de sua boca, eu me reconheci assim que ela começou a falar. Vim para o país desejando poder ser igual a ela, das imagens que eu tinha nas minhas lembranças, ela era a mulher que um dia eu quis me tornar. Agora, eu a via como a menina que eu havia sido. Embora tenha nascido anos antes de mim, suas atitudes lembravam as minhas de anos atrás. Fomos as mesmas, em épocas diferentes. Sua voz tentava competir com a musica em altura, mas não queria ser ouvida, queria ser notada. Eu também quis. Saia de casa com a intenção de voltar sendo algo mais do que antes, mas nunca me satisfazia. Queria brilhar independente da luz que precisasse usar, e nunca era a minha. Falava mais do que fazia valer. Gesticulava, mostrando meu espaço, e desejando o máximo daquelas pessoas, que no fundo nunca me interessaram de verdade, em volta do meu teatro. Mais tarde soube o motivo de toda aquela gesticulação e salto alto que ela também insistia em usar. Ainda que mais alta que eu, tinha a necessidade de ser vista, não apenas pelos alvos, mas por todos daquele salão. A ultima vez que eu desejei ser querida por olhares que não faziam parte da minha vida, eu me arrependi. Não me lembro quando foi, mas sei que me arrependi. Todas as vezes me arrependi. Todas as vezes voltei para casa com um vazio tão filha da puta, que insista em esfregar na minha cara, que todos aqueles rosto nas inúmeras fotos de cada noite, não sabiam minha cor preferida, não haviam andado comigo na chuva, e nem conheciam minha paixão pelo vento. Alguns não sabiam nem o meu nome, apenas me reconheciam, de quem achava que era meu amigo, mas que nunca perguntou o estado de saúde da minha mãe. Isso hoje me parece tão óbvio, de todas as pessoas que passaram pelos meus dias, as que meus pais conheceram são as que ficaram. São as que foram chamadas para uma festa lá em casa, e ao entrar no quarto descobriram minha cor preferida. Mas antes, eu era igual a ela. Vê-la deixava meu rosto quente, e minha cabeça cheia. Mas não poderia esconder o sorriso, de encontrar a mim mesma anos depois. Passei tanto tempo tentando mudar, que não pude perceber quando mudei. Não me dei ao luxo de admitir que tinha sido capaz de me tornar uma pessoa melhor. Tão preocupada em chegar ao final, que não percebi como foi todo o caminho. Decepcionei-me ao ver a mulher que admirava, ainda ser a menina que um dia desprezei. Ela estava sendo meu espelho de anos atrás, contudo era o agora que pude enxergar com tanta clareza. Lembrei das noites que fui dormir querendo acordar no dia seguinte de uma forma melhor, de uma forma mudada, e não percebi que dormir pensando nisso já era minha própria mudança.

Carolina Assis

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui para satisfazer as delas. Temos que nos bastar, nos bastar sempre, e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém. As pessoas não se precisam, elas se completam, não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.
[Mario Quintana]

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