sábado, 3 de julho de 2010

Invertidas - Part II



- Ela é tão livre que um dia será presa.
-Presa por quê?
-Por excesso de liberdade.
-Mas essa liberdade é inocente?
-É. Até mesmo ingênua.
-Então por que a prisão?
-Porque a liberdade ofende.

Clarice Linspector







(...) No fundo ela queria parar de escolher, ela queria ser escolhida.
É, ele a escolheu. Não era ele que ela desejava. Mas as coisas mudaram quando ele notou isso. Mudou para ela, para ele, para os dois. Para seu egoísmo. Ela já não o tinha sempre. Ele escolhia quando ela podia te-lo.
Ele parou de escolher, ela já não o tinha mais.
Ele aprendeu a jogar o jogo dela, ela já não era a única que queria ganhar.
Ele também queria, ele a queria. E principalmente, ele queria que ela o quisesse.
Ela não.
Mas era o seu jogo, e ela estava perdendo. Ela não sabia as regras, nunca tinha as usado. Quando se joga sabendo que só voce podera ser o vencedor, voce não se preocupa como chegar La, voce sabe que chegara de qualquer maneira. Talvez nem houvesse regras.
Ele as inventou. Ele a conhecia, sabia como agir para que ela aprendesse a desejar. Ela estava aprendendo, mas não queria. Talvez fosse necessário, ela já não queria pensar nisso.
Tudo a fazia pensar nisso.
Ela havia sido escolhida pela primeira vez.
Não era isso que ela desejava no fundo?
Não, talvez não.Talvez.


Carolina Assis

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